Sábado, 2 de junho.
Noite de King Dude no Sabotage. Há um compasso de espera lá dentro, ouve-se Joy Division, conversa-se e entre beijos e abraços dos reencontros, começam a formar-se as habituais fileiras de gente em busca de um lugar o mais à frente possível do palco. Ali, junto ao piano, o microfone, uma mesa e uma guitarra encostada. À espera de King Dude. O bar, está ladeado de conversas e o Sabotage a pouco e pouco começa a compor-se e assim, de repente e em noite de arraiais na rua, há imensa gente a descer pelas escadas e começo a pensar se caberemos todos ali.
22h56, onde anda King Dude? - e há canções de Rowland S. Howard a disparar pela cabine do DJ, Brian Eno e Nick Cave por entre conversas e ruídos de quem chega e quer ver o mesmo.
23h19, o reflexo dos projectores vermelhos da bola de espelhos no tecto, ficaram estáticos, parados. E baixam as luzes, e pára tudo. O inventor do estilo luciferiano, King Dude entrou, fez-se silêncio.
Apenas uma noite depois do concerto no Hard Club, no Porto, e uma noite antes de seguir para a Stereogun de Leiria, Thomas Jefferson Cowgill mais conhecido por King Dude, não aparenta qualquer sinal de cansaço. E a primeira canção surge perante uma atenta e silenciosa audiência "Deal With The Devil" e… 'Cheers!' diz ele, e mais três golos do whiskey do Tennessee e uma saraivada de palmas em resposta ao brinde. Olha fixamente para o horizonte algures entre a luz e a escuridão e diz que 'não vislumbra ninguém, mas sabe que estamos lá'. E de olhar maroto, maroto é o sorriso também, dá início a uma série de canções com a sua dark folk iluminada por aquele que ele diz ser o seu amigo Lucifer. E há coros a entoar da plateia, público certinho, certinhos no refrão da letra, e mais parece uma reza a um pai que não habita as missas ao domingo: "Lucifer's The Light of The World, Lucifer's The Light of The World, Lucifers The Light…", entoam - Stand-up comedy da folk ultra negra, é isso. Gargalhadas e palmas e silêncios numa interação sem adereços. King Dude é um bom conversador e sabe fazer rir e mandar calar enquanto canta as suas estórias apocalípticas e infernais.
O foco de luz mantém-se vermelho e estático, a bola de espelhos também. Aliás, King Dude, não é propriamente um apreciador de flashes, de strobes ou de selfies. Daí que todo o concerto tenha sido iluminado maioritariamente a vermelho e de um branco cinzento, e também ninguém ousou uma pose ou filmagem mais arrojada junto do palco. Canções como "Jesus In The Cortyard", "Born In Blood", "River Of Gold" de entre outras foram cantadas no timbre grave e sombrio que o caracterizam em discos como Songs of Flesh & Blood - In The Key of Light (2015) e Sex (2016). Na guitarra e com duas músicas apenas ao piano, deu a conhecer ao vivo um inédito (ainda) sem nome, conseguindo surpreender também a audiência pela versão acústica de "State Trooper" de Bruce Springsteen. Foi o delírio.
Já no final terminou o concerto com um 'venham ter comigo, tenho discos para vocês'. Ele por ele, 'tocava ali todas as noites da semana seguinte' dizia, 'ficava aqui a viver' e da plateia ofereceram-lhe casa, gatos e sofá.
Fotogaleria completa aqui ou ali em baixo.
Texto: Lucinda Sebastião
Fotografia: Virgílio Santos
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