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Raquel Ralha & Pedro Renato em entrevista: "É um misto de prazer imenso e respeito desmedido dar corpo a estas canções "


Raquel Ralha e Pedro Renato trabalham em conjunto há mais de 20 anos e neste período tornaram-se nomes incontornáveis da cena musical portuguesa. Estiveram juntos nos Belle Chase Hotel, caminharam lado a lado com Azembla’s Quartet, Ellas e, mais recentemente, com os Mancines.

Depois de um convite do programa “Cover de Bruxelas” para gravarem três covers, embarcaram numa emocionante viagem pelo universo musical que ambos partilham e que funcionou como motor de arranque para a ideia que agora se concretiza: um disco integral de versões de temas de David Bowie, Pink Floyd, Leonard Cohen ou Nick Cave & The Bad SeedsDepois da edição em CD de The Devil's Choice Vol. I, em novembro de 2017 pela Lux Records, o álbum foi lançado em formato vinil no passado mês de maio, uma vez mais pela mão da Lux Records, apresentando um alinhamento um pouco diferente da versão CD.

Leiam aqui a entrevista completa com o duo que parece não querer ficar apenas por este volume.

Tendo em conta o quanto pode ser variado o universo sonoro da adolescência e do que ouviam então, que julgo saber são a inspiração das vossas escolhas, como chegaram ao alinhamento final deste The Devils Choice Vol. 1?

Raquel Ralha & Pedro Renato - Como nos deparámos com um número infindável de possibilidades e tínhamos que tomar decisões para podermos começar a trabalhar nos temas, optámos por fazer a triagem com base numa escolha por temática, que permitisse dar uma coesão ao alinhamento do disco. Foi penoso deixar tantas músicas de fora da lista, mas foi o alinhamento decidido naquele momento e segundo os parâmetros que escolhemos. Noutra situação, a escolha poderia ter sido radicalmente diferente, mas o céu é o limite e, por isso mesmo, haverá seguramente um Vol.2, para podermos continuar o desafio, que corre sérios riscos de se tornar viciante. :)

Ao ouvir o vosso disco, é notável como apesar de juntar versões de artistas alguns até cronologicamente mais distantes uns dos outros, as canções como por magia parecem ser todas do mesmo autor. Como obtiveram essa sonoridade própria que percorre o disco?

Raquel Ralha & Pedro Renato - As influências musicais de ambos têm imensos pontos em comum e mesmo as partes que divergem deram o seu contributo. Inocentemente ou não, ainda acreditamos que temos uma visão diferente e própria, com algo a dizer ao mundo, em geral, e com algum contributo para a música, em particular. A sonoridade própria de que falas é só uma consequência de vários anos a trabalhar na música conjuntamente.

São recriações, ou versões? há distinção entre uma e outra, ou não…?

Raquel Ralha & Pedro Renato - No fundo, o foco foi dar algo de profundamente nosso ao disco e a cada tema em particular, homenageando ao mesmo tempo artistas que nos influenciaram e que, se calhar inconscientemente, nos fizeram querer fazer música. Este disco dá-nos uma sensação de fecho de círculo pessoal, de cumprimento de dívida de gratidão para com o universo musical e artistas que admiramos.


Foi editado em CD, e vai haver ainda lugar para um vinil. Há então algo no alinhamento que distinga uma da outra edição? Podem falar-me um pouco sobre isso?

Raquel Ralha & Pedro Renato - O CD single tem "Nerves" (Bauhaus), que não está nem no CD, nem no vinil. A edição em CD tem "Strange Days" (The Doors), "The Future" (Leonard Cohen) e "Nine Million Rainy Days" (The Jesus & Mary Chain) que não estão no vinil. A edição em vinil tem "A Question of Lust" (Depeche Mode) e "People Are Strange", que não estão no CD. De fora ficou ainda uma das primeiras versões gravadas ("Right Now" – The Creatures), que será editada na compilação Cover de Bruxelas Sessions com o selo da Lux Records.

A vosso ver e como músicos, entre David Bowie, Siouxsie & The Banshees, Leonard Cohen e John Lennon, apenas para nomear alguns… qual foi a versão neste disco que foi mais difícil de conseguir?

Raquel Ralha & Pedro Renato - Talvez a versão do David Bowie – "I’m Deranged" – facto que se revelou ainda mais gratificante após o nosso agrado com o resultado final.

Há harmónios, mellotrons, toy pianos, - esta recriação retrocede no vosso tempo, um tempo muito mais além e até anterior da vossa adolescência. Quiseram manter esse lado mais vintage da escolha dos arranjos misturado com a modernidade?

Raquel Ralha & Pedro Renato - Quando chegámos ao estúdio Blue House, dos nossos amigos Jorri e João Rui (A Jigsaw), deparámo-nos com uma grande variedade de instrumentos, sobretudo teclados, alguns que estamos habituados a usar e outros menos, o que, à partida, nos motivou a seguir um caminho com mais teclados do que seria normal, embora a utilização desses instrumentos vintage seja uma característica que nos tem acompanhado ao longo da carreira, por isso não é um território de todo desconhecido para nós.

Há também um lado certamente mais diabólico na escolha do título do disco e nos temas escolhidos apesar de alguns serem musicalmente mais ensolarados do que outros.  O que têm a vosso ver estes artistas em comum? Será esse lado mais negro?

Raquel Ralha & Pedro Renato - Os pólos do Bem e do Mal são as grandes forças que nos regem nesta vida. Não há volta a dar. E ao escolhermos estes temas, pelos temas em si e pela temática obscura ou atormentada que os caracteriza, homenageamos esse lado mais negro que todos os artistas, em alguma fase das suas vidas, precisaram de exorcizar, e ainda bem, porque há muita coisa de bom a aprender com o Mal e dele emana uma força incrível que se (em)presta à criação. Andrei Tarkovsky dizia: “O horrível e o belo estão contidos um no outro. Em todo o seu absurdo, este prodigioso paradoxo alimenta a própria vida, e, na arte, cria aquela unidade ao mesmo tempo harmónica e dramática.”



Têm canções já em aberto para uma nova incursão? Uma vez que The Devils Choice Vol. 1 nos deixa na expectativa de uma continuação.

Raquel Ralha & Pedro Renato - Temos uma (ainda) pequena lista de temas para um Vol.2, sim, e esperamos começar a trabalhar no próximo disco em breve.

Ao vivo, depois do trabalho de estúdio, como é transportar estas canções, estes clássicos, para o palco?

Raquel Ralha & Pedro Renato - É um misto de prazer imenso e respeito desmedido dar corpo a estas canções e poder, através delas, exteriorizar um pouco de nós também. É de referir que uma das razões que levou à realização deste projecto foi a nossa necessidade de criar uma estrutura mais pequena que nos permitisse andar na estrada e, como tal, para além de nós os dois, tentamos sempre ter um outro músico connosco, mas não mais que isso, o que leva a que tenhamos sempre em palco um computador que dispara parte dos instrumentais que a logística não permite recriar ao vivo.

E, já agora quando os vamos poder escutar e ver ao vivo. Estão planeadas datas próximas para colocar nas nossas agendas?

Raquel Ralha & Pedro Renato - A próxima data será em Coimbra, no Teatrão, no dia 9 de Junho, para celebrar a recente edição de The Devils Choice Vol. 1 em formato vinil . Estão mais datas por confirmar, mas, posteriormente, iremos actualizando essa informação na nossa página do Facebook.


Entrevista por: Lucinda Sebastião

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