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Reportagem: Conan Osiris [Maus Hábitos, Porto]


Faltavam poucos dias para o iniciar de 2018 quando Conan Osiris surpreendeu tudo e todos com uma receita inesperada de pastelaria. Adoro Bolos, o terceiro álbum do músico e produtor lisboeta pela AVNL Records, tornou-se no disco mais badalado e infame dos últimos meses, dividindo crítica e público num debate interminável sobre a legitimidade ou não de um disco que soa tão alienígena como familiar. Desde então multiplicam-se as entrevistas, concertos e performances em canais televisivos. 

O autor de “Borrego” marcou a sua estreia na Invicta no dia 14 de junho, quinta-feira, no quarto andar mais famoso da cidade. Foi com o supracitado tema que Osiris iniciou a noite, antecedido apenas por um breve momento a capella ao estilo de “Beija-Flor”. A partir daí o concerto desenrolaria pelos restantes temas que marcam o intrigante Adoro Bolos (de fora ficou apenas “Obrigado”). O ambiente era claramente festivo, com um público em êxtase para receber um dos fenómenos mais urgentes que a música portuguesa assistiu nos últimos tempos. “Eu não vos mereço” dizia Conan, surpreso pela recepção calorosa com que foi recebido, relembrando que esta era apenas a segunda atuação exclusivamente sua (a primeira decorreu em maio, no Theatro Circo, até lá tinha aberto para outros artistas como Linn da Quebrada). Ao lado de João Reis Moreira, que o acompanhou com os seus paços de dança sui generis, Osiris explorou o lado risível e descomprometido dos temas do seu mais recente disco, equilibrando-os com a melancolia e comoção de temas como “Barcos (Barcos)” e “Ein Engel”, que tem vindo a receber um tratamento mais angelical e lunar nas suas últimas performances. 




A restante discografia de Conan Osiris não escaparia ao alinhamento da noite, com “Coruja” e “1ovni” a representarem os únicos temas de Música, Normal, que ouviríamos durante a noite. A recepção foi, mais uma vez, calorosa, com boa parte da plateia a acompanhar os temas de uma ponta à outra. A segunda, pelo seu instrumental caótico e efusivo, transportou-nos para a euforia de uma noite de verão bem passada ao volante de um carrinho de choque. O ritmo frenético aumentaria com a chegada das icónicas “Celulitite” e da faixa que dá título ao seu mais recente disco, culminando o alinhamento com “59 Estrelas”, tema de Sreya e do seu álbum Emocional, produzido pelo próprio Osiris. Instrumental pujante e lírica descomprometida remetem-nos para as imagens de um teledisco dos Santamaria, ou de um João Baião hiperativo no saudoso 'Big Show Sic'. Por fim, pedia-se o regresso de Conan Osiris para o tão aguardado momento que foi “Amália”, 90 segundos de puro deleite e tristeza em homenagem à figura que melhor soube cantar o choro e a o fado português. 



Numa noite onde o riso e o choro coabitaram em união, sobressaiu acima de tudo o amor nutrido por um culto em ascensão. Alguns apontam a sua música como inovadora, alienígena ou produto do futuro, mas o seu trabalho é na verdade um reflexo do presente. Viver cada dia como se não existisse amanhã é um dos lemas de Conan Osiris, onde o trágico e o apocalipse são uma constante. A sua música é para ser sentida, e foi isso mesmo que pudemos comprovar nesta noite memorável de junho. 

Conan Osiris [Maus Hábitos, Porto]

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