Foram cinco os anos do Sabotage Club que passaram num ápice. E como todas as coisas boas ficam, fomos à terceira noite de comemorações deste quinto aniversário para assistir a Ricardo Remédio e depois a The KVB, banda inglesa um pouco mais velha do que o clube do Cais do Sodré, e que também progrediu a passos simples e firmes para a maturidade.
Ricardo Remédio
Foi a apresentação a solo de Ricardo Remédio e do seu disco de estreia Natureza Morta e com ele, a fazer o par em palco, o baterista João Vairinhos. Ofereceram um concerto espantoso munido de teclados, samplers e de bateria, de sons compassados, explosivos, minimais, inesperados e de intensa energia. A luz roxa, os strobes de azul cinzento completaram o quadro num palco em que os músicos até pareciam levantar voo com a música que lhes saía das mãos. Em pinceladas ténues, mas vincadas logo à partida, fizeram dançar e muito e foi assim que começou o primeiro dos dois concertos da noite.
E foi assim mesmo, uma coisa etérea, como a música o é. Que é estar ali e ser bem maior que o tecto, a subir de grande, tão grande quanto o céu e sem questões de espaço. E foi sentir. Teclados planantes, distorção minimal e bonita. E concentração absoluta e liberta e o ponto de contacto do som, certeiro, igualmente bonito. Num cantinho libertador. São bonitos e são daqui do nosso país.
O Sabotage está cheio, do balcão até às escadas. No palco, a silhueta de uma cabeça de cujo corte de cabelo até se faz notar, pela parecença com um dos irmão Reid, mas afinal, é sem duvida Nicholas Wood. Há uma mudança de cenário no projector: agora de pano branco de projecção de slides passou para um estado nublado por nuvens de um verde alface. E há uma sombra de um microfone.
The KVB
E começaram a zunir os teclados no palco: os teclados de Kat Day de batidas sincopadas e a postura dançante New Order, simultaneamente dark e ensolarada, juntam-se novamente: guitarra, vozes e teclados e, chegando junto ao palco: dança-se. Para eles, é um pouco a postura do: "estamos em terra estranha", a voz ao princípio um pouco baixa enquanto se agarra à distância instantaneamente o microfone sem descolar da guitarra… . Voz a dois. E os cabelos em cima das teclas, e de tão perto que estão das pessoas e, de batida forte, monocórdica e cada vez mais forte e mais solta à medida que o concerto avança, dançam e fazem dançar.
E julguei ouvir a meio: "…this is a new track…", e é mesmo. Foi mesmo a novidade de algo que ainda não se ouviu dos The KVB e fez dançar e muito. Algoritmos em fundo, aleatórios no ecrã de matiz verde alface cinzenta, numa matrix preta e cúbica minimal. Ouvimos antes e depois algumas das canções de Of Desire, disco de há dois anos atrás, e outras canções que atravessam a carreira dos The KVB e até mesmo um clássico dos The Rolling Stones, "Sympathy For The Devil" quase a terminar com uma nova abordagem indie a fazer lembrar o melhor dos anos oitenta ou noventa de bandas como The Jesus and the Mary Chain e, ou, Galaxie 500. Eis que então, e transportada por magia para este palco, como se de uma qualquer ligação da internet fosse, vem de repente a "Never Enough", tantas vezes repetida por tantos gadgets com ligação wi-fi pelo mundo fora e a canção já tem uns anos… e faz os corpos dançar, e é a cara e o rosto e o fato completo dos The KVB de Nicholas e Kat.
E foram dois concertos fabulosos que representaram e bem o espírito das noites Sabotage. Nota ainda para o excelente set de DJ's que fizeram dançar e muito entre um e outro concerto: Deus do Psicadélico, Pedro Oliveira, Noise Dolls Club e Nuno Rabino. Que se repitam noites assim por muitos e bons anos. Parabéns, Sabotage!
Texto: Lucinda Sebastião
Fotografias: Virgílio Santos
0 Response to "Reportagem: The KVB + Ricardo Remédio [Sabotage Club, Lisboa]"
Post a Comment