Em vésperas de feriado do dia do trabalhador, nada melhor do que exercermos do nosso direito de ócio e deslocarmo-nos até ao Lux para assistir à uma das atuações da qual falaremos, certamente, no final do ano como uma das melhores.
A norueguesa Jenny Hval visitou Portugal para uma data dupla, passando no dia 29 de abril pelo gnration, Braga, e, no dia seguinte, pela capital, num concerto inserida na festa de encerramento do BoCA - Biennal of Contemporary Arts. Na bagagem trouxe o aclamado Blood Bitch, álbum editado em 2016 pela conceituado Sacred Bones. Neste último trabalho, a artista adopta um conjunto de canções mais pop, ainda que abstratas, sem nunca esconder a sua veia mais experimental.
Já passava um pouco da hora marcada quando Jenny subiu ao palco acompanhada pelo seu produtor. Vestida com uma espécie de capa vermelha, a lembrar-nos o Capucinho vermelho, com umas leggins de aspecto semelhante aos músculos do corpo humano, Jenny parecia mesmo uma verdadeira Female Vampire.
Sem surpresa alguma, o concerto focou-se principalmente em temas de Blood Bitch, com maior destaque para os singles "Conceptual Romance", onde a artista cobriu a face com o tecido vermelho da sua capa, fazendo-nos pensar num qualquer filme de terror psicológico de grande teor artístico. Destacaram-se igualmente "Female Vampire", com a melhor interpretação da noite, "The Great Undressing" e "That Battle Is Over" de Apocalypse, Girl (2015).
Muito comunicativa com o público, Jenny estava contente por sermos tantos a vê-la. Confessou-nos também que "It's so sad when nobody is there to watch you play", algo que lhe aconteceu na Austrália. A meio do concerto pegou em algo estranho, uma espécie de cachecol a que apelidou de "cachecol de entranhas" ou "um feto de alien". Mas isto não foi o único momento em que a estranheza imperou no Lux. Houve também tempo para descascar um banana, dançar com ela na mão mas não comê-la.
Ao vivo, a voz de Jenny é tão ou mais incrível que o seu registo de estúdio e a música ganha também uma componente ainda mais eletrónica, ao envolver a sua pop de cariz gélido e abstrato com batidas mais techno. Ao todo, foram quase 60 minutos em que o público presente não parou de dançar. Para concluir esta atuação pouco convencional, Jenny recomendou-nos a usarmos as nossas entranhas, que era algo divertido.
Texto: Rui Gameiro
Fotografia: Daniel Vintém
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